quinta-feira, 26 de maio de 2011



Ismália



Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


Alphonsus de Guimaraens

Publicado no livro Pastoral aos crentes do amor e da morte: este poema, integrante da série "As Canções", foi incluído no livro “Os cem melhores poemas brasileiros do século”, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, pág. 45.


Análise

Dos escritos de Alphonsus de Guimaraens, Ismália é o mais popular. Nele, as relações entre corpo e alma ou matéria e espírito são postas em evidência. Quando refere-se a céu e mar,  significa que o céu recebe a alma; logo, liga-se ao aspecto espiritual; o mar recebe o corpo , logo, representa o universo material.
Todo o texto  é construído com base em  antíteses: perto, longe; subiu, desceu, as quais  articulam-se em torno de desejos contraditórios de Ismália, que se dividem entre a realidade espiritual e a realidade  concreta.
Poema simbolista que retrata bem o movimento literário do qual faz parte, ao valorizar os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Como por exemplo, nas palavras "enlouqueceu", "sonhar", "desvario" .
Quanto aos aspectos formais do texto, estes ligam-se à tradição medieval, assim como no Romantismo. Faz uso da redondilha maior, de versos ritmados e de estruturas paralelísticas, como: "Viu uma lua no céu,/ Viu uma lua no mar", recursos comuns na poesia medieval.
Enfim, é um poema de transcendência espiritual. Por meio da morte, Ismália transcende o mundo  material e integra-se ao cosmos. Sem dúvida, a personificação do Simbolismo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

RESUMO SOBRE VIDAS SECAS





O LIVRO VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS CONTA A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA DE RETIRANTES: FABIANO, SINHÁ VITÓRIA E SEUS DOIS FILHOS. AH, E A TÃO ESTIMADA CACHORRA BALEIA.  SAÍRAM DA CAATINGA FUGINDO DA SECA E ATRAVESSARAM O SERTÃO PERNAMBUCANO COM A ESPERANÇA DE ENCONTRAR  UM LUGAR MELHOR PARA VIVER. NÃO QUERIAM MORRER DE FOME. ATÉ QUE NA DURA TRAVESSIA ENCONTRARAM UMA FAZENDA VELHA ABANDONADA.  INSTALAM-SE NELA E  POR UM INSTANTE  FABIANO SENTE-SE NUM PARAÍSO. SONHA QUE DIAS MELHORES VIRÃO.
FABIANO ESTAVA RADIANTE, AFINAL ESTAVAM VIVOS, E ISSO ERA TUDO. CUIDOU DOS POUCOS ANIMAIS QUE RESTAVAM  VIVOS NA FAZENDA, SE DAVA MUITO BEM COM OS BICHOS E   SENTIA-SE COMO UM DELES.
O DONO DA FAZENDA FINALMENTE REAPARECEU E QUAL NÃO FOI SUA SURPRESA AO VER QUE SUA FAZENDA ESTAVA EM MÃOS ALHEIAS. CONTUDO GOSTOU DO FATO DE QUE ESTAVA SENDO CUIDADA POR FABIANO. E DEU-LHE O CARGO DE  CAPATAZ.  ELE FICOU FELIZ, POIS ATÉ DINHEIRO GANHARIA!
FABIANO ERA MESMO UM HOMEM DE POUCA SORTE. CERTA FEITA, PRECISOU IR À CIDADE FAZER COMPRAS, BEBE UMA PINGA E É CONVIDADO PARA UM JOGO DE CARTAS PELO”SOLDADO AMARELO”. AMBOS PERDEM DINHEIRO. COM ISSO FABIANO DECIDE IR EMBORA, MAS O SOLDADO O PROVOCA, PISANDO EM SEUS PÉS. FABIANO SOLTA UM PALAVRÃO, O QUE O FAZ SER PRESO E SURRADO HUMILHANTEMENTE.  NA CADEIA, A REVOLTA E O DESALENTO LHE CONSOMEM.
SUA MULHER AO SABER DISSO CAI NA DESILUSÃO, AO PERCEBER QUE OS SEUS SONHOS NUNCA SE CONCRETIZARÃO E QUE A MISÉRIA SÓ PIORA A CADA DIA.
O MENINO MAIS NOVO, QUE GOSTAVA MUITO DO PAI, AINDA  ALIMENTAVA O DESEJO DE SER COMO ELE, O DE  SER VAQUEIRO. JÁ O MAIS VELHO, VIA O SOFRIMENTO DE SUA MÃE  E AQUILO O ANGUSTIAVA TERRIVELMENTE.
COM A CHEGADA DO INVERNO, AQUELA POBRE FAMÍLIA ALEGROU-SE, POR QUE  AS CHUVAS  CAÍRAM NAQUELE CASTIGADO SERTÃO.  AS ESPERANÇAS VOLTARAM. PODIAM SER FELIZES!
NESSE CLIMA DE BONANÇA, ATÉ O NATAL COMEMORARAM.  USANDO ROUPAS E SAPATOS NOVOS, SENTIAM-SE MAL. PARECIA NÃO TEREM SIDO FEITOS PARA A CIVILIZAÇÃO. SINHÁ VITÓRIA MANTEVE-SE NA IGREJA E CONSEGUIA DISFARÇAR, MAS FABIANO  SAIU DO RECINTO, TAL FOI O INCOMÔDO. FOI ATÉ A BODEGA, BEBEU, QUIS BRIGAR COM TODO MUNDO, MAS NINGUÉM LHE DEU ATENÇÃO. PARECIA NEM EXISTIR. VOLTOU  MAIS UMA VEZ HUMILHADO PARA SUPORTAR AQUELE DESCONSOLO DE FESTA.
LOGO DEPOIS DESSE EPISÓDIO, A CACHORRA BALEIA ADOECE A FABIANO A SACRIFICA, TEMENDO QUE SOFRA DE HIDROFOBIA E PASSE O MAL PARA  OS MENINOS. SINHÁ VITÓRIA RELUTOU NÃO QUERIA PERDER SUA CADELA.  OS MENINOS FORAM LEVADOS PARA O QUARTO. A CACHORRA QUIS FUGIR DA MORTE, CORREU O MAIS QUE PÔDE, MAS JÁ ESTAVA FERIDA, PENSOU EM MORDÊ-LO ,MAS COMO PODIA CONTRARIÁ-LO, SEMPRE FORA OBEDIENTE AO SEU DONO,  COMO UMA ESPÉCIE DE ALUCINAÇÃO “PENSOU” NOS SEUS ÚLTIMOS DESEJOS E NÃO MAIS VIVEU.
COMO SE NÃO BASTASSE ESSA TRISTEZA, FABIANO É LESADO PELO SEU PATRÃO, NO RECEBIMENTO DO PAGAMENTO. E APESAR DE AS CONTAS DO PATRÃO NÃO COINCIDIREM COM AS DE SINHÁ VITÓRIA, NÃO SE DEFENDE. AO CONTRÁRIO, HUMILHA-SE E PEDE DESCULPA AO PATRÃO.
FABIANO ERA UM  HOMEM SUBSERVIENTE POR NATUREZA. TIVERA A CHANCE DE VINGAR-SE DO SOLDADO AMARELO, MAS NÃO O FEZ. O REEENCONTRA DEPOIS DE UM ANO DA INJUSTA PRISÃO. ELE ESTAVA PERDIDO NA CAATINGA, E EMBORA QUISESSE  VINGANÇA, ACABA CURVANDO-SE E ENSINANDO O CAMINHO AO SOLDADO.
OUTRO PERÍODO DE SECA SE APROXIMAVA, E  ELES  PRECISAVAM  PARTIR MAIS UMA VEZ. ARRUMAM AS COISAS E VÃO PARA O SUL, CUMPRIR A TRISTE SINA!

RESUMO VIDA DE DROGA




Dora, uma garota de família rica perde o chão quando seu pai perde o emprego e vai trabalhar na Amazônia. Os pais se separam. Perdem tudo. A mãe, ela e seu irmão mudam-se para um bairro pobre e ela não se adapta a nova vida.
Começou a namorar com Gui, primo de Emília, uma amiga rica. E foi com ele que descobriu o mundo das drogas.
No início fazia pequenos furtos em casa, depois passou a roubar som de carro, claro, influenciada pelo namorado. Até que a polícia os pegou: ela, Elias, um traficante e Gui. Este último levou um tiro ela fugiu. A mãe quis saber, mas ela fugiu de casa e foi morar numa casa abandonada com Elias.
Não demorou muito até que a polícia os achou e a mãe dela foi informada. do ocorrido. Foi julgada inocente e foi para a clínica de reabilitação. Saiu de lá curada. Foi para casa, a família a recebeu  bem, mas ela achava que ninguém a amava  e procurou Edmundo, um amigo,  que conhecera no hospital. Ele era ex-usuário, mas lhe ofereceu crack e ficaram vivendo juntos. Até o momento em que ele resolveu viajar por uma semana e não mais voltou. 
Ela procurou vários amigos, pediu ajuda, mas ninguém a acolheu. Daí foi para a rua para tentar viver como prostituta, mas não dava para o negócio. Tornou-se mendiga. Cansou da rua e procurou a mãe de Elias, Dona Clarice, que a ajudou e depois chamou a mãe dela. Mais uma vez sua mãe tenta ajudá-la e o seu padrasto Paulo paga um novo tratamento. Ela recuperou-se, mas não volta para casa, pois o clima  de hostilidade era constante.
Finalmente conseguiu um emprego no shopping  de vendedora. Tudo parecia estar bem, até que ela reencontrou com Naldo, usuário de droga, que ofereceu-lhe novamente a droga, mas ela recusou, já não era sem tempo!! A partir de então, a vida começa a sorrir de novo para ela. O amor ressurge. Um rapaz que sempre fora apaixonado por ela, a convida para sair e ela aceita. Seria o recomeço de uma nova vida ??!

Do livro  VIDA DE DROGA DE WALCYR CARRASCO/ 1998

segunda-feira, 23 de maio de 2011

RESUMO: OS DESVALIDOS


Os Desvalidos, romance de memórias, retrata a trajetória infeliz do sertanejo Coriolano. O qual teve sua casa invadida por Lampião, ainda na sua juventude, mas consegue fugir, deixando para trás  sua terra natal: o Aribé.
O protagonista muda-se para o Rio das Paridas atormentado pelo medo do ataque do cangaceiro mais temido da região e lá pena a saudade de sua terra.  Lembra-se sempre de sua infância e também dos dissabores que enfrentou naquela fuga. Vai viver em companhia do seu tio Felipe, um viúvo, que apaixona-se por Maria Melona, uma mulher atraente e corajosa.  Casa-se com ela, mas seu casamento não dura muito, foi desfeito por calúnias motivadas por inveja, sendo Coriolano o pivô da separação, ao acusá-la de trair seu marido. Por isso, Maria Melona, resolve entrar para o bando de Lampião para vingar-se de Coriolano. Quanto ao tio Felipe, movido pelo desgosto sai pelo mundo como caixeiro-viajante.
 Coriolano na tentativa de encontrar o seu tio, sai como seleiro viajante, mas por uma coincidência infeliz, acaba encontrando-se com Lampião, o qual o obriga a prestar serviços a seu bando por um certo tempo.
Com a chegada de tio Felipe no Aribé trava-se uma batalha.  Zerramo, um homem leal e destemido,que era compadre de Coriolano, enfrenta Lampião e este o mata. Coriolano covardemente abandona o corpo do amigo e foge para  o rio das Paridas. E Tio Felipe é salvo por Maria Melona.
Ao saber da morte do famoso cangaceiro, Coriolano, alegra-se e começa planejar o seu regresso, porém isto não acontece devido a sua indeterminação e medo. É um desgraçado em tudo o que faz.
Ambos os personagens terminam frustrados. Coriolano, totalmente, não tinha sonhos, não tinha ofício próprio, vivia sempre a amuletar-se em alguém, não consegue nem voltar para sua terra natal e Tio Felipe, terminou louco, apenas conseguiu o ofício de amansador de cavalos da região que para ele, havia nascido para aquilo.
Enfim, o livro narra uma sucessão de personagens em total fracasso, como diz o próprio Coriolano: "É a Sina que iguala todos nós" , este representa a figura simbólica dessa decadência. Salvando-se, apenas, dessa  triste e cruel sina, João Devoto, que  contraditoriamente, era um homem desonesto, explorador e ignorante e ironicamente,  o único feliz ao longo da história.



SOBRE O AUTOR



FRANCISCO J. C. DANTAS NASCEU EM RIACHÃO DO DANTAS, SE, EM 1941. E SÓ ENTROU NA FACULDADE AOS 30 ANOS, QUANDO JÁ ERA CASADO E PAI DE UMA MENINA. 
VISTO PELA CRÍTICA COMO UM DOS MELHORES ROMANCISTAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA, VEM SURPREENDENDO A TODOS COM UMA FICÇÃO DE CARÁTER REVOLUCIONÁRIO COMPARADO APENAS A GUIMARÃES ROSA.
 ENTROU PARA O MUNDO LITERÁRIO EM 1991 AO PUBLICAR COIVARA DA MEMÓRIA, OBRA QUE MEXEU COM O CENÁRIO NACIONAL. EM 1993, PUBLICA OS DESVALIDOS, UMA FICÇÃO REGIONALISTA RETRATANDO BEM A RIQUEZA LINGUÍSTICA DA CULTURA POPULAR COM O TOM PRÓPRIO DO ESCRITOR CULTO.  UM ROMANCE QUE SEGUE  AS DIREÇÕES TRADICIONAIS DE NOSSA FICÇÃO, ENRIQUECENDO-A, DIVERSIFICANDO-A, INOVANDO-A. ISSO, PELA ADOÇÃO DE NOVOS TEMAS, COMO POR EXEMPLO, A INTRODUÇÃO DE PERSONAGENS DOS CHAMADOS GRUPOS MARGINALIZADOS. NESTA OBRA CHICO DANTAS RETRATA A DIGNIDADE HUMANA NA PESSOA DO SERTANEJO NORDESTINO.

Marlucy

 

ARTIGO: O PODER IDEOLÓGICO DA LINGUAGEM


Acabou vendo Joan Brossa
que os verbos do catalão
tinham coisas por detrás.
Eram só palavras, não.
João Cabral

O discurso reflete a realidade em suas relações sociais, mas não como ela é. Convém a classe dominante, que sejam mostradas apenas formas aparentes da realidade. Utiliza-se para isso, do discurso ideológico para nivelar as classes. A intenção é parecer que todos são iguais, escondendo assim a realidade massante da desigualdade, presente na sociedade burguesa e a subordinação de uma classe à outra.
Prova disso, são os temas dominantes do discurso da segunda metade do século XIX que refletem uma determinada formação ideológica. Como por exemplo, o Naturalismo pregava que o homem é determinado pelo meio, a hereditariedade e o momento, tese que provém do positivismo da Europa. Além disso, as obras naturalistas em exemplo do cientificismo provindo da França, no qual todos os fatos sociais eram explicados por determinações mecânicas, adotou a objetividade, tornando-se também aqui no Brasil uma ideologia dominante.
Mas nem todos se preocuparam em reproduzir o discurso dominante. Podemos citar o padre Antônio Vieira que polemizava os intelectuais do século XIX de sua época, ao produzir um discurso que denunciava o modo de produção, a exploração e a perversidade do sistema escravagista. Neste sentido, se opunha a ideologia dos poderosos.
O texto de Vieira embora não manifeste a visão do mundo dominante, revela uma das visões de mundo presentes na formação social em que vive. Ou seja, querendo ou não, o discurso reflete a realidade em suas relações sociais, a diferença consiste em não reproduzi-lo.
Busquemos o pensamento de linguístas: de um lado, Marr acredita que a linguagem é elemento da superestrutura, visto que as transformações na sociedade produzem mudanças no sistema linguistico. Por outro lado, Stálin diz o contrário. Para ele, a língua não tem caráter de classe, é apenas um sistema autônomo que deveria ser falado por todos de forma homogênea, de modo que não houvesse diferentes falares. O fato é que ambos restringiram muito o lugar que a linguagem ocupa. Nem uma coisa nem outra. A função da linguagem é muito complexa e a única coisa que se pode afirmar é que ela é um veículo que representa a ideologia social.
O fato é que ninguém fala por falar. Tudo o que se diz tem o objetivo de influir sobre os outros . E mesmo que não o tenha acaba-se reproduzindo algum saber. Comunicar vai além de agir no mundo. E a regra é que, quem comunica acaba reproduzindo a ideologia dominante, ou então, vai contra ela . Nesse sentido, a linguagem serve tanto para libertar quanto para oprimir. É preciso atentarmos que nem sempre a ideologia burguesa está com a razão, e consequentemente, não devemos reproduzi-la, sem ao menos nos perguntar se aquilo é mesmo verdade. Embora haja uma tendência das classes subalternas disso, é necessário defender-se dos apelos dos discursos ideológicos dominantes.
Em suma, a linguagem é um fenômeno extremamente complexo e multifacetado. Embora não seja em si um fenômeno que tenha um caráter de classe, as classes a utilizam para transmitir suas representações ideológicas.O importante é não contribuir para reforçar as estruturas de dominação, não permitindo que a linguagem seja instrumento de opressão ou de conservação, mas antes, de libertação e mudança.
A reflexão sobre a linguagem desafia homens há milênios, porque dela se pode dizer o que dizia Riobaldo, no Grande Sertão Veredas:
"Todos estão loucos neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas , muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total."

Marlucy