domingo, 21 de maio de 2017

Dez Chamamentos

Ao Amigo

de Hilda Hilst


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)
[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

ENIGMA DA VIDA



Existem pessoas que apenas passam em nossa vida. Surgem de forma fluída e da mesma forma desaparecem, não nos causam muito impacto e não faz nenhuma diferença por isso.Por outro lado, há pessoas específicas que de um jeito avassalador nos prendem. Mexem conosco de tal maneira, que não nos reconhecemos diante de nossas próprias atitudes e emoções. Um encontro apenas é suficiente para despertar em nós algo diferente e totalmente inexplicável.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Cora Coralina 


Aninha e suas pedras


Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.


Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça

[...]

quarta-feira, 10 de junho de 2015

"CAVERNAS"

 ...muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta.




"Reinventar-me não é apenas necessário, é vital. Isto não é uma escolha, a vida é quem vai ditando as regras com maestria, seja com sofrimento ou não, ela está sempre certa. Me redescobri e  recomeçar é o que me cabe fazer." 

domingo, 24 de agosto de 2014



"OPERÁRIOS" DE TARSILA DO AMARAL, 1933.


Entende-se por texto tudo o que for possível  de compreensão  e interpretação.
Nesse caso, uma obra de arte, uma rica obra de arte. Aspecto de linearidade. Pessoas em série. Cabeças de homens e mulheres, todos com a mesma expressão. E não é de festa, muito menos de alegria. De todas as etnias, de todo o Brasil .As chaminés marcam o fundo do quadro representando as fábricas nas quais essas pessoas trabalham. E são exploradas, tal é a face triste e cansada delas. 
Na década de 30, vive-se uma época de industrialização no Brasil em que os trabalhadores são a massa oprimida que aspiram a um "grito". Pelo menos um "grito". 

domingo, 20 de julho de 2014

SOLIDÂO




Que minha solidão me sirva de companhia.

que eu tenha a coragem de me enfrentar.

que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir

como se estivesse plena de tudo.

Clarice Lispector

quarta-feira, 9 de julho de 2014

AINDA QUE MAL



ainda que mal respondas;

ainda que mal te entenda,

ainda que mal repitas;

ainda que mal insista,

ainda que mal desculpes;

ainda que mal me exprima,

ainda que mal me julgues;

ainda que mal me mostre,

ainda que mal me vejas;

ainda que mal te encare,

ainda que mal te furtes;

ainda que mal te siga,

ainda que mal te voltes;

ainda que mal te ame,

ainda que mal o saibas;

ainda que mal te agarre,

ainda que mal te mates;

ainda assim te pergunto

e me queimando em teu seio,

me salvo e me dano: amor.



Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 21 de maio de 2013

A VIDA É SONHO

 
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
Uma sombra, uma ficção;
O maior bem tristonho,
Porque toda a vida é sonho
E os sonhos, sonhos são.
 
 
 Do livro A vida é sonho de Calderón de la Barca.
 
 
 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A MAGIA DO ENCONTRO


Há muitas pessoas que convivem, porém nunca viveram a magia do encontro. A magia de perceber o outro. Criar intimidade com o outro. Anos não importam, o tempo passa e por muitos passa despercebido. Infelizmente. Não deixam marcas. E nunca deixarão, se não houver antes de qualquer coisa, o envolvimento consigo mesmo. Eu em mim. Sentindo a delícia de ser uma pessoa. Esta pessoa. Assim do jeito que sinto. Que me sinto. Essa relação antecede todas as outras e deve ser a melhor. Ouvindo as minhas necessidades, as minhas queixas, mas também curtindo cada coisa conquistada ao longo da vida. Reprovando aquele comportamento insano com a colega de trabalho, mas vibrando com um ato de generosidade que sou impelida a praticá-lo. É necessário olhar para o eu, primeiro. E reconhecer-se um alguém único. Só depois disso, olhar para o outro e enxergá-lo para além dos olhos. Enxergá-lo em sua essência. Não com uma avalanche de palavras, ditas bem intencionadas, mas com o silêncio de quem ouve e sente o outro ao lado. Assim acontece o verdadeiro encontro. Somente assim...


terça-feira, 24 de abril de 2012

REALIDADE

Nem sempre realidade
é aquilo que a gente tem.
O que se sente cá dentro
que ninguém percebe ou vê
no eu real escondido
ora doce ora dorido
feliz ou tão esmagado,
já morto ou desabrochado
profundamente guardado;
é nossa realidade.
É nossa grande verdade.
É nossa vida também.

Cyra de Queiroz Barbosa

sábado, 19 de novembro de 2011

POEMA: NOTURNO

Não sei por que, sorri de repente
E um gosto de estrela me veio na boca...
Eu penso em ti, em deus, nas voltas inumeráveis que fazem os caminhos.

Em Deus, em ti, de novo...
Tua ternura simples...
Eu queria, não sei por que, sair correndo descalço pela noite imensa
E o vento da madrugada me encontraria morto junto de um arroio,
Com os cabelos e a fronte mergulhados na água límpida...
Mergulhados na água límpida, cantante e fresca de um arroio!

( Do livro O aprendiz de feiticeiro de Mário Quintana)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

sábado, 22 de outubro de 2011

TEXTO: HAPPY END



O meu amor e eu
nascemos um para o outro
agora só falta quem nos apresente



(Cacaso)


O "final feliz"  tão propalado nos filmes de amor, a idealização do amor, não passa de um lugar-comum! !!!!! Ter um amor sonhado é fácil,  conquistá-lo de verdade é que são elas... Nesse pequeno grande texto, Cacaso, destrutivamente,  extermina o imaginário romântico do "final feliz", contrapondo o ideal (amor perfeito) ao real ( ainda falta conhecer a pessoa amada).

segunda-feira, 18 de julho de 2011

CARTA A UMA SENHORA

A garotinha fez esta redação no ginásio:
“Mammy, hoje é dia das Mães e eu desejo-lhe milhões de felicidades e tudo mais que a Sra. sabe. Sendo hoje o dia das Mães, data sublime conforme a professora explicou o sacrifício de ser Mãe que a gente não está na idade de entender mas um dia estaremos, resolvi lhe oferecer um presente bem bacaninha e fui ver as vitrinas e li as revistas. Pensei em dar à Sra. o radiofono Hi-Fi de som estereofônico e caixa acústica de 2 alto-falantes amplificador e transformador mas fiquei na dúvida se não era preferível uma TV legal de cinescópio multirreacionário som frontal, antena telescópica embutida, mas o nosso apartamento é um ovo de tico-tico, talvez a Sra. adorasse o transistor de 3 faixas de ondas e 4 pilhas de lanterna bem simplesinho, levava para a cozinha e se divertia enquanto faz comida. Mas a Sra. se queixa tanto de barulho e dor de cabeça, desisti desse projeto musical, é uma pena, enfim trata-se de um modesto sacrifício de sua filhinha em intenção da melhor Mãe do Brasil.   

Falei de cozinha, estive quase te escolhendo o grill automático de 6 utilidades porta de vidro refratário e completo controle visual, só não comprei-o porque diz que esses negócios eletrodomésticos dão prazer uma semana, chateação o resto do mês, depois encosta-se eles no armário da copa. Como a gente não tem armário da copa nem copa, me lembrei de dar um, serve de copa, despensa e bar, chapeado de aço tecnicamente subdesenvolvido. Tinha também um conjunto para cozinha de pintura porcelanizada fecho magnético ultra-silencioso puxador de alumínio anodizado, um amoreco. Fiquei na dúvida e depois tem o refrigerador de 17 pés cúbicos integralmente utilizáveis, congelador cabendo um leitão ou peru inteiro, esse eu vi que não cabe lá em casa, sai dessa!

Me virei para a máquina de lavar roupa sistema de tambor rotativo mas a Sra. podia ficar ofendida deu querer acabar com a sua roupa lavada no tanque, alvinha que nem pomba branca, Mammy esfrega e bate com tanto capricho enquanto eu estou no cinema ou tomo sorvete com a turma. Quase entrei na loja para comprar o aparelho de ar condicionado de 3 capacidades, nosso apartamentinho de fundo embaixo do terraço é um forno, mas a Sra. vive espirrando, o melhor é não inventar moda.

Mammy, o braço dói de escrever e tinha um liqüidificador de 3 velocidades, sempre quis que a Sra. não tomasse trabalho de espremer laranja, a máquina de tricô faz 500 pontos, a Sra. sozinha faz muito mais. Um secador de cabelo para Mammy! gritei, com capacete plástico mas passei adiante, a Sra. não é desses luxos, e a poltrona anatômica me tentou, é um estouro, mas eu sabia que a minha Mãezinha nunca tem tempo de sentar. Mais o quê? Ah sim, o colar de pérolas acetinadas, caixa de plástico perolado, par de meias, etc. Acabei achando tudo meio chato, tanta coisa para uma garotinha só comprar e uma pessoa só usar, mesmo sendo a Mãe mais bonita e merecedora do Universo. E depois, Mammy, eu não tinha nem 20 cruzeiros, eu pensava que na véspera deste Dia a gente recebesse não sei como uma carteira cheia de notas amarelas, não recebi nada e te ofereço este beijo bem beijado e carinhosão de tua filhinha Isabel.”

(CARLOS  DRUMMOND DE ANDRADE )
Texto extraído do livro Crônicas 5 – Coleção Para Gostar de Ler/ São Paulo: Ática. 2005


ANÁLISE



Conversa fiada de uma menina, seriedade nenhuma, um desabafo ingênuo, seria mesmo? Ledo engano! Por trás de um discurso inocente, Drummond  provoca uma critica social. Trata-se de uma extraordinária crônica que a princípio nos conta uma "''historinha"   sem maiores consequências, num tom pra lá de leve,  entretanto é capaz de fazer-nos sentir coisas grandiosas. Ao mesmo tempo que ironicamente questiona valores da sociedade impostos pelo capitalismo de uma forma tão profunda... 
Ao lançar mão de uma personagem infantil, o autor capta ainda mais a simplicidade, o bom humor, a sensibilidade de uma menininha que  sem nenhum  dinheiro consegue desfilar na imaginação os vários presentes que gostaria de dar a sua mãe no seu dia. Até faz-nos acreditar que de fato os daria, se não fosse um pequeno detalhe, não é? 
É como se ela tivesse do lado de fora de uma vitrine imensa, olhando todos os objetos maravilhosos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos que solucionariam todos os problemas da casa, quiça, da vida daquela mãe, tão assoberbada de afazeres infindáveis...
Mas que, na verdade, quem dá esses superpoderes aos tais presentes é a propaganda  que cria aspirações e necessidades transformando-os em bens ideais para as pessoas. Pura invenção! De quem?  Fruto da sociedade de consumo que cruelmente esbanja o ter a todo custo, só quem tem, faz parte dela... Aos outros resta apenas o olhar invejoso e inacessível...por saber que a falta de dinheiro os separa dos outros...ou então, os valores sentimentais, como um beijo carinhoso desta filha na sua mãe é tudo o que sobra...ou o que é suficiente...



 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

MÚSICA: EU PRECISO APRENDER A SER SÓ



Sabe, gente.
É tanta coisa pra gente saber.
O que cantar, como andar, onde ir.
O que dizer, o que calar, a quem querer.

Sabe, gente.
É tanta coisa que eu fico sem jeito.
Sou eu sozinho e esse nó no peito.
Já desfeito em lágrimas que eu luto pra esconder.

Sabe, gente.
Eu sei que no fundo o problema é só da gente.
E só do coração dizer não, quando a mente.
Tenta nos levar pra casa do sofrer.

E quando escutar um samba-canção.
Assim como: "Eu preciso aprender a ser só".
Reagir e ouvir o coração responder:
"Eu preciso aprender a só ser."

GILBERTO GIL




sábado, 4 de junho de 2011

POEMA: SUFOCO



            O AMOR, ESSE SUFOCO,
AGORA HÁ POUCO ERA MUITO,
            AGORA, APENAS UM SOPRO


            AH, TROÇO DE LOUCO,
CORAÇÕES TROCANDO ROSAS,
            E SOCOS




PAULO LEMINSKY. Distraídos venceremos. São Paulo , Brasiliense, 1987.

quinta-feira, 26 de maio de 2011



Ismália



Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...


Alphonsus de Guimaraens

Publicado no livro Pastoral aos crentes do amor e da morte: este poema, integrante da série "As Canções", foi incluído no livro “Os cem melhores poemas brasileiros do século”, Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001, pág. 45.


Análise

Dos escritos de Alphonsus de Guimaraens, Ismália é o mais popular. Nele, as relações entre corpo e alma ou matéria e espírito são postas em evidência. Quando refere-se a céu e mar,  significa que o céu recebe a alma; logo, liga-se ao aspecto espiritual; o mar recebe o corpo , logo, representa o universo material.
Todo o texto  é construído com base em  antíteses: perto, longe; subiu, desceu, as quais  articulam-se em torno de desejos contraditórios de Ismália, que se dividem entre a realidade espiritual e a realidade  concreta.
Poema simbolista que retrata bem o movimento literário do qual faz parte, ao valorizar os aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Como por exemplo, nas palavras "enlouqueceu", "sonhar", "desvario" .
Quanto aos aspectos formais do texto, estes ligam-se à tradição medieval, assim como no Romantismo. Faz uso da redondilha maior, de versos ritmados e de estruturas paralelísticas, como: "Viu uma lua no céu,/ Viu uma lua no mar", recursos comuns na poesia medieval.
Enfim, é um poema de transcendência espiritual. Por meio da morte, Ismália transcende o mundo  material e integra-se ao cosmos. Sem dúvida, a personificação do Simbolismo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

RESUMO SOBRE VIDAS SECAS





O LIVRO VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS CONTA A HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA DE RETIRANTES: FABIANO, SINHÁ VITÓRIA E SEUS DOIS FILHOS. AH, E A TÃO ESTIMADA CACHORRA BALEIA.  SAÍRAM DA CAATINGA FUGINDO DA SECA E ATRAVESSARAM O SERTÃO PERNAMBUCANO COM A ESPERANÇA DE ENCONTRAR  UM LUGAR MELHOR PARA VIVER. NÃO QUERIAM MORRER DE FOME. ATÉ QUE NA DURA TRAVESSIA ENCONTRARAM UMA FAZENDA VELHA ABANDONADA.  INSTALAM-SE NELA E  POR UM INSTANTE  FABIANO SENTE-SE NUM PARAÍSO. SONHA QUE DIAS MELHORES VIRÃO.
FABIANO ESTAVA RADIANTE, AFINAL ESTAVAM VIVOS, E ISSO ERA TUDO. CUIDOU DOS POUCOS ANIMAIS QUE RESTAVAM  VIVOS NA FAZENDA, SE DAVA MUITO BEM COM OS BICHOS E   SENTIA-SE COMO UM DELES.
O DONO DA FAZENDA FINALMENTE REAPARECEU E QUAL NÃO FOI SUA SURPRESA AO VER QUE SUA FAZENDA ESTAVA EM MÃOS ALHEIAS. CONTUDO GOSTOU DO FATO DE QUE ESTAVA SENDO CUIDADA POR FABIANO. E DEU-LHE O CARGO DE  CAPATAZ.  ELE FICOU FELIZ, POIS ATÉ DINHEIRO GANHARIA!
FABIANO ERA MESMO UM HOMEM DE POUCA SORTE. CERTA FEITA, PRECISOU IR À CIDADE FAZER COMPRAS, BEBE UMA PINGA E É CONVIDADO PARA UM JOGO DE CARTAS PELO”SOLDADO AMARELO”. AMBOS PERDEM DINHEIRO. COM ISSO FABIANO DECIDE IR EMBORA, MAS O SOLDADO O PROVOCA, PISANDO EM SEUS PÉS. FABIANO SOLTA UM PALAVRÃO, O QUE O FAZ SER PRESO E SURRADO HUMILHANTEMENTE.  NA CADEIA, A REVOLTA E O DESALENTO LHE CONSOMEM.
SUA MULHER AO SABER DISSO CAI NA DESILUSÃO, AO PERCEBER QUE OS SEUS SONHOS NUNCA SE CONCRETIZARÃO E QUE A MISÉRIA SÓ PIORA A CADA DIA.
O MENINO MAIS NOVO, QUE GOSTAVA MUITO DO PAI, AINDA  ALIMENTAVA O DESEJO DE SER COMO ELE, O DE  SER VAQUEIRO. JÁ O MAIS VELHO, VIA O SOFRIMENTO DE SUA MÃE  E AQUILO O ANGUSTIAVA TERRIVELMENTE.
COM A CHEGADA DO INVERNO, AQUELA POBRE FAMÍLIA ALEGROU-SE, POR QUE  AS CHUVAS  CAÍRAM NAQUELE CASTIGADO SERTÃO.  AS ESPERANÇAS VOLTARAM. PODIAM SER FELIZES!
NESSE CLIMA DE BONANÇA, ATÉ O NATAL COMEMORARAM.  USANDO ROUPAS E SAPATOS NOVOS, SENTIAM-SE MAL. PARECIA NÃO TEREM SIDO FEITOS PARA A CIVILIZAÇÃO. SINHÁ VITÓRIA MANTEVE-SE NA IGREJA E CONSEGUIA DISFARÇAR, MAS FABIANO  SAIU DO RECINTO, TAL FOI O INCOMÔDO. FOI ATÉ A BODEGA, BEBEU, QUIS BRIGAR COM TODO MUNDO, MAS NINGUÉM LHE DEU ATENÇÃO. PARECIA NEM EXISTIR. VOLTOU  MAIS UMA VEZ HUMILHADO PARA SUPORTAR AQUELE DESCONSOLO DE FESTA.
LOGO DEPOIS DESSE EPISÓDIO, A CACHORRA BALEIA ADOECE A FABIANO A SACRIFICA, TEMENDO QUE SOFRA DE HIDROFOBIA E PASSE O MAL PARA  OS MENINOS. SINHÁ VITÓRIA RELUTOU NÃO QUERIA PERDER SUA CADELA.  OS MENINOS FORAM LEVADOS PARA O QUARTO. A CACHORRA QUIS FUGIR DA MORTE, CORREU O MAIS QUE PÔDE, MAS JÁ ESTAVA FERIDA, PENSOU EM MORDÊ-LO ,MAS COMO PODIA CONTRARIÁ-LO, SEMPRE FORA OBEDIENTE AO SEU DONO,  COMO UMA ESPÉCIE DE ALUCINAÇÃO “PENSOU” NOS SEUS ÚLTIMOS DESEJOS E NÃO MAIS VIVEU.
COMO SE NÃO BASTASSE ESSA TRISTEZA, FABIANO É LESADO PELO SEU PATRÃO, NO RECEBIMENTO DO PAGAMENTO. E APESAR DE AS CONTAS DO PATRÃO NÃO COINCIDIREM COM AS DE SINHÁ VITÓRIA, NÃO SE DEFENDE. AO CONTRÁRIO, HUMILHA-SE E PEDE DESCULPA AO PATRÃO.
FABIANO ERA UM  HOMEM SUBSERVIENTE POR NATUREZA. TIVERA A CHANCE DE VINGAR-SE DO SOLDADO AMARELO, MAS NÃO O FEZ. O REEENCONTRA DEPOIS DE UM ANO DA INJUSTA PRISÃO. ELE ESTAVA PERDIDO NA CAATINGA, E EMBORA QUISESSE  VINGANÇA, ACABA CURVANDO-SE E ENSINANDO O CAMINHO AO SOLDADO.
OUTRO PERÍODO DE SECA SE APROXIMAVA, E  ELES  PRECISAVAM  PARTIR MAIS UMA VEZ. ARRUMAM AS COISAS E VÃO PARA O SUL, CUMPRIR A TRISTE SINA!

RESUMO VIDA DE DROGA




Dora, uma garota de família rica perde o chão quando seu pai perde o emprego e vai trabalhar na Amazônia. Os pais se separam. Perdem tudo. A mãe, ela e seu irmão mudam-se para um bairro pobre e ela não se adapta a nova vida.
Começou a namorar com Gui, primo de Emília, uma amiga rica. E foi com ele que descobriu o mundo das drogas.
No início fazia pequenos furtos em casa, depois passou a roubar som de carro, claro, influenciada pelo namorado. Até que a polícia os pegou: ela, Elias, um traficante e Gui. Este último levou um tiro ela fugiu. A mãe quis saber, mas ela fugiu de casa e foi morar numa casa abandonada com Elias.
Não demorou muito até que a polícia os achou e a mãe dela foi informada. do ocorrido. Foi julgada inocente e foi para a clínica de reabilitação. Saiu de lá curada. Foi para casa, a família a recebeu  bem, mas ela achava que ninguém a amava  e procurou Edmundo, um amigo,  que conhecera no hospital. Ele era ex-usuário, mas lhe ofereceu crack e ficaram vivendo juntos. Até o momento em que ele resolveu viajar por uma semana e não mais voltou. 
Ela procurou vários amigos, pediu ajuda, mas ninguém a acolheu. Daí foi para a rua para tentar viver como prostituta, mas não dava para o negócio. Tornou-se mendiga. Cansou da rua e procurou a mãe de Elias, Dona Clarice, que a ajudou e depois chamou a mãe dela. Mais uma vez sua mãe tenta ajudá-la e o seu padrasto Paulo paga um novo tratamento. Ela recuperou-se, mas não volta para casa, pois o clima  de hostilidade era constante.
Finalmente conseguiu um emprego no shopping  de vendedora. Tudo parecia estar bem, até que ela reencontrou com Naldo, usuário de droga, que ofereceu-lhe novamente a droga, mas ela recusou, já não era sem tempo!! A partir de então, a vida começa a sorrir de novo para ela. O amor ressurge. Um rapaz que sempre fora apaixonado por ela, a convida para sair e ela aceita. Seria o recomeço de uma nova vida ??!

Do livro  VIDA DE DROGA DE WALCYR CARRASCO/ 1998

segunda-feira, 23 de maio de 2011

RESUMO: OS DESVALIDOS


Os Desvalidos, romance de memórias, retrata a trajetória infeliz do sertanejo Coriolano. O qual teve sua casa invadida por Lampião, ainda na sua juventude, mas consegue fugir, deixando para trás  sua terra natal: o Aribé.
O protagonista muda-se para o Rio das Paridas atormentado pelo medo do ataque do cangaceiro mais temido da região e lá pena a saudade de sua terra.  Lembra-se sempre de sua infância e também dos dissabores que enfrentou naquela fuga. Vai viver em companhia do seu tio Felipe, um viúvo, que apaixona-se por Maria Melona, uma mulher atraente e corajosa.  Casa-se com ela, mas seu casamento não dura muito, foi desfeito por calúnias motivadas por inveja, sendo Coriolano o pivô da separação, ao acusá-la de trair seu marido. Por isso, Maria Melona, resolve entrar para o bando de Lampião para vingar-se de Coriolano. Quanto ao tio Felipe, movido pelo desgosto sai pelo mundo como caixeiro-viajante.
 Coriolano na tentativa de encontrar o seu tio, sai como seleiro viajante, mas por uma coincidência infeliz, acaba encontrando-se com Lampião, o qual o obriga a prestar serviços a seu bando por um certo tempo.
Com a chegada de tio Felipe no Aribé trava-se uma batalha.  Zerramo, um homem leal e destemido,que era compadre de Coriolano, enfrenta Lampião e este o mata. Coriolano covardemente abandona o corpo do amigo e foge para  o rio das Paridas. E Tio Felipe é salvo por Maria Melona.
Ao saber da morte do famoso cangaceiro, Coriolano, alegra-se e começa planejar o seu regresso, porém isto não acontece devido a sua indeterminação e medo. É um desgraçado em tudo o que faz.
Ambos os personagens terminam frustrados. Coriolano, totalmente, não tinha sonhos, não tinha ofício próprio, vivia sempre a amuletar-se em alguém, não consegue nem voltar para sua terra natal e Tio Felipe, terminou louco, apenas conseguiu o ofício de amansador de cavalos da região que para ele, havia nascido para aquilo.
Enfim, o livro narra uma sucessão de personagens em total fracasso, como diz o próprio Coriolano: "É a Sina que iguala todos nós" , este representa a figura simbólica dessa decadência. Salvando-se, apenas, dessa  triste e cruel sina, João Devoto, que  contraditoriamente, era um homem desonesto, explorador e ignorante e ironicamente,  o único feliz ao longo da história.



SOBRE O AUTOR



FRANCISCO J. C. DANTAS NASCEU EM RIACHÃO DO DANTAS, SE, EM 1941. E SÓ ENTROU NA FACULDADE AOS 30 ANOS, QUANDO JÁ ERA CASADO E PAI DE UMA MENINA. 
VISTO PELA CRÍTICA COMO UM DOS MELHORES ROMANCISTAS DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA, VEM SURPREENDENDO A TODOS COM UMA FICÇÃO DE CARÁTER REVOLUCIONÁRIO COMPARADO APENAS A GUIMARÃES ROSA.
 ENTROU PARA O MUNDO LITERÁRIO EM 1991 AO PUBLICAR COIVARA DA MEMÓRIA, OBRA QUE MEXEU COM O CENÁRIO NACIONAL. EM 1993, PUBLICA OS DESVALIDOS, UMA FICÇÃO REGIONALISTA RETRATANDO BEM A RIQUEZA LINGUÍSTICA DA CULTURA POPULAR COM O TOM PRÓPRIO DO ESCRITOR CULTO.  UM ROMANCE QUE SEGUE  AS DIREÇÕES TRADICIONAIS DE NOSSA FICÇÃO, ENRIQUECENDO-A, DIVERSIFICANDO-A, INOVANDO-A. ISSO, PELA ADOÇÃO DE NOVOS TEMAS, COMO POR EXEMPLO, A INTRODUÇÃO DE PERSONAGENS DOS CHAMADOS GRUPOS MARGINALIZADOS. NESTA OBRA CHICO DANTAS RETRATA A DIGNIDADE HUMANA NA PESSOA DO SERTANEJO NORDESTINO.

Marlucy

 

ARTIGO: O PODER IDEOLÓGICO DA LINGUAGEM


Acabou vendo Joan Brossa
que os verbos do catalão
tinham coisas por detrás.
Eram só palavras, não.
João Cabral

O discurso reflete a realidade em suas relações sociais, mas não como ela é. Convém a classe dominante, que sejam mostradas apenas formas aparentes da realidade. Utiliza-se para isso, do discurso ideológico para nivelar as classes. A intenção é parecer que todos são iguais, escondendo assim a realidade massante da desigualdade, presente na sociedade burguesa e a subordinação de uma classe à outra.
Prova disso, são os temas dominantes do discurso da segunda metade do século XIX que refletem uma determinada formação ideológica. Como por exemplo, o Naturalismo pregava que o homem é determinado pelo meio, a hereditariedade e o momento, tese que provém do positivismo da Europa. Além disso, as obras naturalistas em exemplo do cientificismo provindo da França, no qual todos os fatos sociais eram explicados por determinações mecânicas, adotou a objetividade, tornando-se também aqui no Brasil uma ideologia dominante.
Mas nem todos se preocuparam em reproduzir o discurso dominante. Podemos citar o padre Antônio Vieira que polemizava os intelectuais do século XIX de sua época, ao produzir um discurso que denunciava o modo de produção, a exploração e a perversidade do sistema escravagista. Neste sentido, se opunha a ideologia dos poderosos.
O texto de Vieira embora não manifeste a visão do mundo dominante, revela uma das visões de mundo presentes na formação social em que vive. Ou seja, querendo ou não, o discurso reflete a realidade em suas relações sociais, a diferença consiste em não reproduzi-lo.
Busquemos o pensamento de linguístas: de um lado, Marr acredita que a linguagem é elemento da superestrutura, visto que as transformações na sociedade produzem mudanças no sistema linguistico. Por outro lado, Stálin diz o contrário. Para ele, a língua não tem caráter de classe, é apenas um sistema autônomo que deveria ser falado por todos de forma homogênea, de modo que não houvesse diferentes falares. O fato é que ambos restringiram muito o lugar que a linguagem ocupa. Nem uma coisa nem outra. A função da linguagem é muito complexa e a única coisa que se pode afirmar é que ela é um veículo que representa a ideologia social.
O fato é que ninguém fala por falar. Tudo o que se diz tem o objetivo de influir sobre os outros . E mesmo que não o tenha acaba-se reproduzindo algum saber. Comunicar vai além de agir no mundo. E a regra é que, quem comunica acaba reproduzindo a ideologia dominante, ou então, vai contra ela . Nesse sentido, a linguagem serve tanto para libertar quanto para oprimir. É preciso atentarmos que nem sempre a ideologia burguesa está com a razão, e consequentemente, não devemos reproduzi-la, sem ao menos nos perguntar se aquilo é mesmo verdade. Embora haja uma tendência das classes subalternas disso, é necessário defender-se dos apelos dos discursos ideológicos dominantes.
Em suma, a linguagem é um fenômeno extremamente complexo e multifacetado. Embora não seja em si um fenômeno que tenha um caráter de classe, as classes a utilizam para transmitir suas representações ideológicas.O importante é não contribuir para reforçar as estruturas de dominação, não permitindo que a linguagem seja instrumento de opressão ou de conservação, mas antes, de libertação e mudança.
A reflexão sobre a linguagem desafia homens há milênios, porque dela se pode dizer o que dizia Riobaldo, no Grande Sertão Veredas:
"Todos estão loucos neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas , muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total."

Marlucy

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O SEMPRE AMOR


Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste

Amor é a coisa que mais quero.

Por causa dele falo palavras como lanças.

Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste

Amor é coisa que mais quero.

Por causa dele podem entalhar-me,

sou de pedra-sabão.
Alegre ou triste,

amor é coisa que mais quero.


Adélia Prado

domingo, 11 de abril de 2010

**RECLAME**


S
e o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
...ou transforme o mundo

ótica olho vivo
agradece a preferência


CHACAL

sexta-feira, 9 de abril de 2010

...............................

"Teremos de nos arrepender nesta geração não tanto das ações das pessoas perversas, mas dos pasmosos silêncios das boas pessoas."

...............................

"Vamos agradecer aos idiotas. Não fosse por eles não faríamos tanto sucesso."

................................



Plagiar, é implicitamente,

admirar.

DIZEM


Esquecem.  
Não dizem?
Disseram.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Por que
esperar?
__Tudo é
Sonhar.


Fernado Pessoa

O poeta julga que, quando as pessoas falam sobre qualquer assunto, não dão muita importância as palavras e logo se esquecem do que foi dito. Quando silenciam é como se falassem: "Não estamos a fim de dizer nada".Quando, em vez de dizer, as pessoas fazem algo ou cruzam os braços, não faz diferença. Conclui então: melhor que esperar o que as pessoas dirão ou farão é simplesmente sonhar com o que elas diriam ou fariam.

sexta-feira, 26 de março de 2010

POEMA DO TEMPO



Tem o importante que sabe que é comum
Tem o comum que se acha importante
Tem o diamante que sabe que é pedra
Tem a pedra que se acha diamante
Enquanto isso, o tempo passa levando
Comuns, importantes, pedras e diamantes


(Ninguém sabe o que é um poema/ Ricardo Azevedo/2005)



Ricardo Azevedo, um autor irreverente que escreve aquilo que lhe é mais humanamente inventivo. Dar asas às palavras, para que elas voem em várias direções.... Partilha suas inquietações. Inquietações sobre a natureza e a vida na cidade, sobre o amor e a violência, o amadurecimento pessoal. O mistério que são os outros e a própria poesia.

quarta-feira, 17 de março de 2010

CECÍLIA MEIRELES-CÂNTICOS



CÂNTICO XXIII



Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.

sexta-feira, 12 de março de 2010

UM POEMA CECILIANO



ROMANCE DAS PALAVRAS AÉREAS

 
"Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!

Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!

Todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...

A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!

Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
Detrás de grossas paredes,
de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
sem peso de ação nem de hora...

- e estais no bico das penas,
- e estais na tinta que as molha,
- e estais nas mãos dos juizes,
- e sois o ferro que arrocha,
- e sois barco para o exílio,
- e sois Moçambique e Angola!

Ai, palavras, ai, palavras,
ídeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas,
entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto,
promessas que o mundo sopra...

Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?
- Acusações, sentinelas,
bacamarte, algema, escolta;
- o olho ardente da perfídia,
a velar, na noite morta;
- a umidade dos presídios,
- a solidão pavorosa;
- duro ferro de perguntas,
com sangue em cada resposta;
- e a sentença que caminha,
- e a esperança que não volta,
- e o coração que vacila,
- e o castigo que galopa...

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!

Perdão podíeis ter sido!

- sois madeira que se corta,
sois vinte degraus de escada,
- sois um pedaço de corda...
- sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...

Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!

Éreis um sopro na aragem...
- sois um homem que se enforca!
(Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência)

domingo, 7 de março de 2010

LITERATURA DE AUTORIA FEMININA


Com licença poética



Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar a bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-dor não é amargura
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Adélia Prado




UM POUCO DE SUA VIDA


Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará.

No ano de 1950 falece sua mãe. Tal acontecimento faz com que a autora escreva seus primeiros versos. Nessa época conclui o curso ginasial no Ginásio Nossa Senhora do Sagrado Coração, naquela cidade.

No ano seguinte inicia o curso de Magistério na Escola Normal Mário Casassanta, que conclui em 1953. Começa a lecionar no Ginásio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho em 1955.

Em 1958 casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas, funcionário do Banco do Brasil S.A. Dessa união nasceriam cinco filhos: Eugênio (em 1959), Rubem (1961), Sarah (1962), Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966).

Antes do nascimento da última filha, a escritora e o marido iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis.

Em 1972 morre seu pai e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nessa ocasião envia carta e originais de seus novos poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete à apreciação de Carlos Drummond de Andrade.


Que tal acessar alguns sites para conhecer mais sobre escritoras brasileiras?!

http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/catalogoIndex.html


http://www.rebra.org


Sugestão de leitura:
NOVAES, Nelly. Dicionário crítico das escritoras brasileiras. Editora Escrituras.




quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

POESIA DE VIEIRA NETO

EU CONSCIENTE



Sinto-me vazio:

Esterilizei-me
Para ser apenas
Uma árdua espera

Sou a causa
De mim próprio
Sou porque quero ser
Sou o próprio começo

( Do livro EU CONSCIENTE de VIEIRA NETO)


SOBRE O AUTOR

Vieira Neto, poeta, jornalista, ator e crítico literário, nascido no munícipio de Estância em Sergipe, representante da nobre arte poética, busca imprimir em sua poesia as marcas da existência humana com toda a simplicidade que o cotidiano se apresenta, mas também, não abre mão de explorar toda a complexidade que permeia a poesia.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"PROFUNDO"


A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. então você trabalhaa 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, naõ tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?!

CHARLES CHAPLIN

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PROFESSOR E PROFESSORA



As bolas de papel na cabeça,
Os inúmeros diários para se corrigir,
As críticas, as noites mal dormidas...
Tudo isso não foi o suficiente
Para te fazer desistir do teu maior sonho:
Tornar possíveis os sonhos do mundo.
Que bom que esta tua vocação
Tem despertado a vocação de muitos.
Parece injusto desejar-te um feliz dia dos professores,
Quando em seu dia-a-dia
Tantas dificuldades acontecem.
A rotina é dura, mas você ainda persiste.
Teu mundo é alegre, pois você
Consegue olhar os olhos de todos os outros
E fazê-los felizes também.
Você é feliz, pois na tua matemática de vida,
Dividir é sempre a melhor solução.
Você é grande e nobre, pois o seu ofício árduo lapida
O teu coração a cada dia,
Dando-te tanto prazer em ensinar.
Homenagens, frases poéticas,
Certamente farão parte do seu dia a dia,
E quero de forma especial, relembrar
A pessoa maravilhosa que você é
E a importância daquilo do seu ofício.
É por isto que você merece esta homenagem
Hoje e sempre, por aquilo que você é
E por aquilo que você faz.
Felicidades!!!
(autor desconhecido)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O LIVRO NO SÉCULO XXI



O livro, a grande invenção do século XV, do pergaminho a luxuosas edições, continua a ser um objeto de propagação de conhecimento e cultura, porém tem sido preterido pelo avanço tecnológico, principalmente, no Brasil, onde o hábito de ler sempre foi relegado a segundo plano.
O fato é que a globalização em que vivemos atualmente nos proporciona um mundo movido de informações tecnicamente prontas. A sobrevivência no século XXI está ligada a um estilo de vida superficial que computa a proposta vantajosa da atual tendência. Nesse sentido, o livro não seria um invento ultrapassado para um século tão informatizado???
Pena que essa busca de informação fácil tem cada vez mais limitado a imaginação das pessoas, que ao deixar de exercitá-la se conformam em superficializar o conhecimento. É verdade que as redes digitais facilitaram, como nunca, o acesso a qualquer tipo de informação, mas também é fato que facilitaram a apropriação de reflexões dos outros. É sabido que muitos alunos, na hora de fazer as lições, montam uma colagem de textos encontrados na internet. "Estão perdendo o hábito de ler um livro inteiro e fazer um resumo." Pula-se velozmente de galho em galho digital, numa interatividade hiperativa. A hipótese é que, por isso, sairia prejudicada a busca de profundidade.
Julgo, pois, necessário ressaltar o lema: LER É PRECISO! Este abrangente e extensivo a todos. Aos docentes, me atrevo a estabelecer outro: “-TORNEMO–NOS CAPAZES!“. A nós deve ser dado o primeiro chamado, a responsabilidade está em nossas mãos, sinta–se nem que seja só por uma vez motivado a produzir uma forma de estimular os estudantes ao exercício da leitura, e assim, tenhamos trabalho, trabalho sim, em procurar provas consistentes para manifestarmos o alerta ao Brasil sobre a importância do livro no século XXI.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

AULA DE PORTUGUÊS

A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A ARTE DE SER FELIZ



HOUVE um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me completamente feliz.
HOUVE um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.
HOUVE um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir da altura da janela; e mesmo que a ouvisse,não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, a às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
HOUVE um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
MAS, quando falo dessas pequenas felicidades, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.


Cecília Meirelles




“Pense aí”


Você consegue ver poesia naquilo que o cerca?????

Como você vê o mundo e as pessoas com quem convive?????

Ser feliz é uma arte?????

A felicidade pode existir em todos nós???????

domingo, 30 de agosto de 2009

RESUMO SOBRE O CONTO: FELICIDADE CLANDESTINA


De um lado, a personagem-protagonista da história, uma garota de boa aparência e  pobre que é apaixonada pelos livros. Do outro, sua amiga, uma menina perversa e feia, que tem verdadeiro pavor pela leitura, embora seja filha de dono de livraria. A primeira, com verdadeiro talento para "santa", sempre pedia livros emprestados a segunda, a qual de forma irônica, prometia dá-lhes em empréstimo, contudo nunca o fazia.
A tortura se deu de forma mais cruel ao dizer a menina que tinha o livro Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato. O sonho da nossa boa menina era lê-lo! Diz que vai emprestá-lo, porém não  o faz. Dando a ela a esperança de que o faria depois.
Desse modo, a menina todos os dias ia esperançosamente até a casa da amiga para pegá-lo, mas sempre ouvia a mesma desculpa de que o livro já havia sido emprestado a outra pessoa. Tamanha crueldade tinha aquela pequena!
Num desses dias em que a sorte não é companheira, a cruel menina em mais uma recusa de emprestar o tão cobiçado livro, foi surpreendida por sua mãe, que de nada sabia. Esta pediu explicações a ambas. E logo entendeu que a sua filhinha estava agindo de má fé, pois o livro nunca fora emprestado a ninguém. Decepcionada com a filha , ela a obriga a emprestar o livro no mesmo instante, dando prazo indeterminado  para ficar com ele.
A boa menina recebe-o e  sai radiante. Ao chegar em casa começou a ler sem pressa, prolongando sempre mais aquele prazer! Era uma felicidade! E por ser clandestina, valia a pena, mais ainda , aquele   "caso de amor"!!!
Marlucy










Publicado pela primeira vez em 1971, Felicidade Clandestina é um livro que reúne 25 contos da escritora brasileira Clarice Lispector - alguns já publicados anteriormente - sendo também o título do primeiro conto.
Os contos abordam assuntos como infância, adolescência e família, sem deixar de abordar as angústias da alma. Como é comum nas obras de Clarice Lispector, a descrição dos ambientes, das personagens e o enredo perdem a importância para a revelação profunda dos personagens (epifania).







O Conto Felicidade Clandestina



Ela
era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com sua letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingan­ça, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de ca­belos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me subme­tia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía as Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro pra se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.No dia seguinte fui à sua casa, literalmente cor­rendo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo.
Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era meu modo estranho de andar pelas ruas do Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nem uma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte, lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefini­do, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivi­nhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mes­mo, às vezes eu aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas, houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A se­nhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sem­pre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.
[em Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector]